No ultimo domingo dia 22 de janeiro de 2017, foi ao ar uma matéria no quadro do programa Esporte Espetacular da Globo chamado “ Mulheres Espetaculares”. Fernanda Lima, apresentadora e atriz, abriu a temporada do programa com uma reportagem praticando Ashtanga na Índia, mas precisamente em Mysore, a cidade do ashtanga.
O quadro Mulheres Espetaculares apresenta sempre uma mulher com alguma atividade envolvida e um desafio a ser cumprido. A repórter do programa, Juliana Sana, acompanha essa mulher e toda sua rotina até chegar no desafio final.
Se tratando de uma emissora de grande nome e em um canal aberto que tem acesso a milhares de pessoas no Brasil e exterior, o programa precisava ter uma leitura que atingisse a “massa” numa linguagem mais acessível para que todos pudessem compreender, assistir e se interessar( e ter Ibope também!).
A matéria pode ter gerado polêmica e desconforto em algumas pessoas, principalmente
naqueles que estão nessa filosofia e linhagem de Yoga há um tempo e sabem que a pratica não se restringe somente ao que foi mostrado. Algumas expressões e atitudes podem ter sido vistas como radicais, mas tudo depende de como cada pessoa, dentro do seu próprio entendimento, interpreta isso.
Eu como professora da Fernanda, fiz parte da matéria e ajudei a equipe a entender um pouco mais sobre como funciona as coisas por lá. Eu vou para Mysore regularmente desde de 2011 e tenho muita devoção a essa prática e aos meus mestres. Ir para Mysore e estudar na melhor escola de ashtanga do mundo não é fácil mesmo não, precisa de muita energia e determinação. Só quem já foi sabe o que eu estou falando.
Apos assistir o programa e edições feitas, percebi que algumas palavras poderiam causar polêmica. Gostaria de ressaltar algumas citações do programa e interpretar dentro do meu entendimento como praticante e professora do método e que ainda está no meu caminho de aprendizado e busca pessoal.
“O Ashtanga é o Yoga mais extremo do mundo”. Sim, praticar Ashtanga significa praticar os 8 passos do Yoga, e ter disciplina e comprometimento, abrir o tapete e praticar 6 vezes na semana faça chuva ou faça sol. Praticar Yamas(condutas morais) e Nyamas( condutas pessoais e observâncias) , ter paciência e ao mesmo tempo ter austeridade e energia.
“ Posturas que parecem contorcionismo e mágica”, para quem vê de fora, pode parecer sim, mas as posturas da Yoga, os asanas, fazem parte de um processo de aprendizado individual. Cada aluno desenvolve a serie de acordo com seu ritmo, respeitando seu corpo e suas limitações. Os asanas têm a função física de purificar o corpo e torna-lo forte e saudável, mas o seu maior efeito acontece na mente e nos níveis mais sutis de consciência. Colocar o pé atrás da cabeça não é o mais importante, mas realizar estes tipos de posturas, requer muita atenção, entrega e disciplina. Essa intenção interna na pratica é que vai levar o praticante ao verdadeiro estado de Yoga.
“ O Ashtanga tem seis séries dificuldades”, o ashtanga tem seis séries fixas que são desenvolvidas de acordo com a evolução de cada aluno. São difíceis não pela complexidade física do asana, a dificuldade maior é ter foco, mantendo a atenção na respiração quando realiza a postura com os vinyasas corretos(sincronia da respiração e movimento). Evoluir na série é um caminho natural que acontece de acordo com cada aluno, mas intenção de quem pratica a primeira, segunda ou a terceira série é a mesma, de humildade e aceitação.
“ Algumas posturas te levam ao limite e podem causar sérias lesões se não forem feitas com perfeição”. A perfeição no asana significa realizar a postura sem esforço, mantendo a respiração consciente e tranquila. No Ashtanga, as posturas são ensinadas devagar, passo a passo, a postura limite é a onde o aluno deve parar e finalizar sua pratica. Desta forma, respeitando os limites naquele momento, o aluno vai buscando entendimento sobre a postura, criando mais força e mais espaço no seu corpo. A dor em algum momento pode ser inevitável, mas faz parte do processo de cada um, do seu histórico de vida, padrões e condicionamentos antigos que vem à tona, e aí que entra o discernimento para aceitar e ouvir seu próprio corpo.
Qualquer atividade que o usa o corpo pode causar lesões se não for feita com atenção, seja ela correndo, nadando ou ate mesmo andando pela rua.
O papel do professor é orientar o aluno e mostrar o caminho correto para que esse aluno não caia nas armadilhas do ego. O professor antes de tudo,deve ser um praticante dedicado e comprometido com sua prática. O bom professor é aquele que tem devoção aos seus mestres e assim vai poder passar sua própria experiência daquilo que ele vive e aprende todos dias no seu sadhana. As vezes o professor pode parecer rígido, mas é como um pai ou mãe que quer proteger seu filho para que ele não caia em nenhuma roubada. O professor precisa ter humildade e ensinar o aluno com amor e paciência.
Fernanda Lima é minha aluna há um pouco mais de um ano, mas já pratica Ashtanga a mais de 12 anos. Como qualquer praticante, tem suas limitações, ansiedades e sonhos. Fernanda tinha o sonho de praticar em Mysore e a possibilidade de fazer o programa na Índia, a deixou muito entusiasmada. Ela teve pouco tempo para praticar lá por causas dos seus compromissos profissionais e pessoais. Na matéria ela pode ter parecido imprudente por ter desrespeitado algumas normas do Instituto, mas quem somos nos para julgar, não é mesmo? Quem é que alguma vez já não tentou passar do seu próprio limite e teve ansiedade de fazer mais posturas e de até tentar aquela que seu professor ainda não te ensinou? Como uma criança que fica encantada com um universo mágico de possibilidades e aventuras.
Fernanda chega no desafio final de completar a segunda série na Índia, mas será que realmente este foi seu desafio? O desafio dela de verdade,assim como o nosso, não deve ser só pessoal, mas em nome de algo maior que é ajudar ao próximo, é a pratica diária fora do tapete, sendo uma pessoa melhor para o mundo. Praticar Ashtanga significa superação e amor em busca da transformação interior.
Namaste!
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